Compartilhamento de dados beneficia contas digitais e acelera lançamento de novos produtos no mercado.
O Open Finance atingiu, em 2025, a marca de quatro bilhões de chamadas semanais entre instituições financeiras para compartilhamento de informações de clientes, segundo o diretor de Regulação do Banco Central, Gilneu Vivan.
O dado foi revelado durante o evento Finance of Tomorrow, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O número representa o dobro do registrado em 2024, quando o sistema movimentou dois bilhões de chamadas por semana, e quatro vezes mais que em 2023, quando eram apenas um bilhão.
Vivan destacou que o processo ganhou força à medida que bancos e agentes financeiros passaram a enxergar o sistema não como um produto isolado, mas como uma plataforma capaz de gerar benefícios concretos para os clientes. Entre os avanços, estão o desenvolvimento de novos serviços digitais e a democratização de produtos financeiros antes restritos a grandes investidores.
Esse avanço só foi possível pela ampla aceitação dos brasileiros. A popularização do Pix, lançado em 2020, foi apontada como um dos principais fatores para o aumento da confiança dos consumidores em compartilhar dados financeiros: “O Pix quebrou a resistência das pessoas e mostrou eficiência nos serviços digitais, criando terreno para o Open Finance se expandir”, afirmou Vivan.
Conta digital e novos serviços integrados
Hoje, quem usa conta digital já sente na prática os benefícios do sistema, como a possibilidade de visualizar saldos de diferentes bancos em uma única tela, obter ofertas personalizadas de crédito e realizar pagamentos por aproximação sem acessar o aplicativo principal da instituição.
Um exemplo é o Pix Automático, lançado em 2024 para substituir o boleto bancário em cobranças recorrentes. Com um único consentimento, o correntista autoriza empresas a acessarem seus dados financeiros para efetuar cobranças periódicas, mais simples na vida de quem assina serviços de streaming, academias ou escolas.
A integração entre contas digitais e carteiras virtuais trouxe mais conveniência para os consumidores. Ao pagar um café com o celular, a transação envolve não apenas o banco do cliente, mas também a instituição do lojista e a operadora da maquininha, todas conectadas por APIs seguras. Essa rede de dados compartilhados amplia a oferta de serviços digitais e fortalece a competição entre instituições, resultando em taxas mais baixas e maior acesso ao crédito.
Obstáculos e desafios tecnológicos
Mesmo com os avanços, o Open Finance ainda enfrenta obstáculos para se tornar um sistema de pagamentos e compartilhamento de dados de alto desempenho. De acordo com a Associação dos Iniciadores de Transação de Pagamento, entre 50% e 60% das operações feitas atualmente não são concluídas com sucesso.
A taxa de conversão é um desafio que afeta especialmente as transações de maior volume. Instituições financeiras ainda enfrentam gargalos tecnológicos na integração de APIs e no tratamento de dados em tempo real. O diretor executivo da INIT, Gustavo Lino, ressalta, no entanto, que a segurança das operações é elevada e que os índices de fraude são ínfimos quando comparados a outros meios de pagamento.
Perspectivas e expansão futura
Para contornar esses obstáculos, o Banco Central e as associações do setor discutem medidas como o processamento de Pix em lotes, que facilita o uso por médias e grandes empresas. A funcionalidade permitiria agrupar diversas transações em uma única operação, evitando travamentos do sistema e dando mais fluidez aos pagamentos corporativos.
Estão em andamento projetos para permitir a portabilidade de crédito por meio do Open Finance já em 2026. Isso permitirá que consumidores transfiram operações de crédito entre instituições com mais transparência. A medida deve ser estendida também ao crédito consignado, ampliando o poder de escolha dos trabalhadores.
A expectativa é que, no médio prazo, o maior volume financeiro do Open Finance venha das empresas, devido ao potencial de movimentação muito superior ao das pessoas físicas. Ainda assim, para consumidores individuais, o sistema já significa mais acesso a crédito, tarifas menores e serviços personalizados integrados a suas contas digitais.